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A pele que habito: "Anti-poluição" | Estratégias, ingredientes e exemplos de produtos

sábado, 14 de outubro de 2017

"Anti-poluição" | Estratégias, ingredientes e exemplos de produtos


Teria invariavelmente que existir uma "próxima grande cena", um upgrade à proteção contra a radiação que já foi UV, mas que agora inclui também infravermelhos, luz visivel, e quem sabe um dia ondas rádio e TV. Entretanto, essa "grande cena" chegou, talvez vinda da Ásia, e chama-se "anti-poluição".

Dei por mim a descrever produtos como sendo "anti-poluição" sem no entanto saber bem do que se estava a falar. Antioxidantes? Talvez. Mas não podia ser só. Por isso, pesquisei durante algumas semanas, e hoje falo-vos tanto dos efeitos que a poluição tem sobre a pele, como das estratégias usadas para combatê-la e produtos do mercado que têm essa alegação. 



Efeitos da poluição sobre a pele

"Poluição" é uma palavra que engloba um grande conjunto de substâncias, desde matéria gasosa a sólida; dos metais aos hidrocarbonetos. De uma forma global, e tendo em conta aquilo que se sabe hoje, a poluição pode afetar a pele por 4 mecanismos:

  • Gerando radicais livres, fundamentalmente por ação do ozono formado na camada mais baixa da atmosfera;
  • Alterações da microflora cutânea, já que o mesmo ozono é também bactericida;
  • Induzindo uma resposta inflamatória e lesando a barreira cutânea: algo que se deve em grande parte à interação com os resíduos provenientes da queima de combustíveis fósseis;
  • Ativando o AhR (recetor aril hidrocarboneto), essecialmente por hidrocarbonetos poliaromáticos (PAH's) mas também pelo ozono e dixinas. Este recetor regula a proliferação celular, inflamação e melanogénese (produção de melanina);

Existem já estudos que mostram o efeito da poluição sobre a saúde da pele:

  • Pigmentação

Um estudo verificou que a presença de elevadas concentrações matéria particulada na atmosfera estaria relacionada com um maior número de manchas no rosto. A matéria particulada provém essencialmente da queima de combustíveis fósseis. Mas quando se fala de matéria particulada, o grande problema é que esta é capaz de veicular uma série de poluentes gasosos (PAH's, por exemplo), líquidos, e outras substâncias igualmente pequenas; e com capacidade de permear a pele.

Mais recentemente, dois estudos realizados na China e na Alemanha, onde foram observados grupos numerosos de pessoas; verificaram que uma concentração elevada de NO2 atmosférico, um gás libertado pela queima de combustíveis; estará correlacionada com o desenvolvimento de lentigos em mulheres com mais de 50 anos; especialmente na zona das bochechas. Os lentigos são manchas características do avançar da idades, e cujo desenvolvimento poderá estar também relacionado com fatores genéticos e ambientais.


  • Formação de rugas

O primeiro estudo mencionado no tópico anterior demonstrou também que a presença de elevadas concentrações matéria particulada na atmosfera estaria relacionada com uma maior profundidade do sulco nasolabial ("bigode chinês"). Existem outros estudos que sugerem resultados semelhantes, embora os seus resultados não estejam disponíveis para consulta pública.

  • Sensibilidade
A sensibilidade cutânea está relacionada com a ocorrência de desconforto na pele, e que normalmente se manifesta por sensações de picada, comichão, secura, eritema ou até de borbulhas. Embora seja algo subjetivo, existem fatores ambentais que podem agravar estes sintomas; já que um dos principais motivos para a sua ocorrência será uma maior permeabilidade da pele a substâncias externas, que estará associada a uma perda parcial da função de barreira cutânea.

Por um lado, pensa-se que alguém que tenha predisposição para ter uma pele sensível será também mais vulnerável aos efeitos dos poluentes. Por outro, os próprios poluentes promoverão também uma degradação da barreira cutânea, facilitando ou aumentando desta forma a probabilidade de se desenvolverem patologias como a acne, eczema, rosácea, entre outras.

Onde podem atuar os produtos cosméticos?

Antes de mais, uma proteção contra a poluição passa por:

  • Ter um ritual de higiene diário, reduzindo a acumulação de partículas sobre a pele; 
  • Manter a pele hidratada, reforçando assim a barreira cutânea que reduz a penetração de poluentes;
  • Aplicar protetor solar diariamente, minimizando simultaneamente os efeitos negativos da radiação solar e dos poluentes que com ela interagem.

Só aqui podem já imaginar as múltiplas interpretações que o termo "anti-poluição" poderá ter.

Mas além destes hábitos básicos, e que pressopõem tecnologias para a hidratação, limpeza da pele e proteção solar; hoje em dia é possível também optar produtos com uma ação específica sobre alguns agentes poluentes. Para isso, cada um dos 4 mecanismos acima mencionados poderá ser um alvo para a atuação dos produtos cosméticos. Raramente um produto contém apenas um ingredientes anti-poluição.

Infelizmnete, nem todos os ingredientes mencionados nesta publicação terão uma eficácia devidamente documentada. Ainda assim, achei interessante mostrar-vos os vários exemplos que podem encontrar:

  • Antioxidantes

Os ingredientes anti-poluição mais óbvios, uma vez que serão capazes de neutralizar alguns dos radicais livres que interagem com a pele.

Os mais populares serão as vitaminas C e E, a par do ácido ferúlico, resveratrol.

Além destes ingredientes purificados, são muitas vezes usados também extratos vegetais contendo misturas destas substâncias, polifenóis e outras moléculas de potencial antioxidante. Os mais comuns são sem duvida o chá verde e branco, diversas porções da videira e da uva, bagas de frutos silvestres, alcachofra, ou tomate.



  • Ectoína

É já usada em cosmética mas também em medicamentos pela sua capacidade de reduzir a resposta inflamatória, e parece ser especialmente eficaz contra os efeitos da exposição a matéria particulada.



  • Argilas

Absorvem uma quantidade significativa da sujidade que se encontra à superfície da pele e no interior dos poros.



  • Niacinamida 

Reforça a barreira cutânea ao estimular a produção de ceramidas, reduzindo assim a penetração de poluentes. Poderá também atenuar a inflamação cutânea. É um dos ingredientes cosméticos acerca o qual existe melhor evidência científica.



  • Carvão

É utilizado tendo em mente as suas propriedades absorventes, e a sua utilização na medicina, como destoxificante, mas também na indústria, em processos de purificação. 



  • Formam uma barreira física 

Para este efeito, existem diferentes tecnologias, sendo os ingredientes filmogénios os mais comuns. Estes  formam uma barreira que reduz a penetração dos poluentes na pele; e por vezes repelem essas mesmas partículas por terem cargas elétricas positivas, tal como a generalidade das partículas poluentes.

Neste sentido, são utilizados alguns lisados de microrganismos, polissacarídeos isolados ou extratos vegetais; sendo o extrato das vagens de moringa talvez o mais comum.

Uma outra estratégia passará por utilizar ingredientes que retêm metais pesados à superfície da pele. Muitas vezes, estes ingredientes podem ser também associados a antioxidantes, como forma de reduzir o stress oxidativo que os metais poderão provocar. É de ressalvar que o uso de quelantes não é propriamente novo (vejam o exemplo do tão odiado EDTA).


  • Prébióticos e Probióticos

A nossa flora cutânea é capaz de metabolizar e neutralizar parte dos poluentes que afetam o nosso organismo; embora algumas outras substâncias poluentes possam reduzir a sua viabilidade.

Já vos falei mais pormenorizadamente acerca do uso de probioticos em cosmética, mas volto a deixar-vos alguns exemplos:



  • Malaquite

Este mineral tem sido cada vez mais utilizado na formulação de produtos anti-poluição pela sua ação antioxidante, que terá por base a regeneração da glutationa celular em estudos realizados em celulas.

A glutationa é produzida pelo nosso organismo, e é a principal responsável pela defesa antioxidante celular. Infelizmente, não consegui encontrar qualquer estudo independente realizado em humanos que documente o benefício da utilização deste mineral topicamente.



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